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24/06/2016 08h02
MEMÓRIAS POLÍTICAS DE AGUINHAS (5) - E então ÁGUAS VIRTUOSAS virou LAMBARI...

Ilustração: Jornais de dezembro de 1930 noticiam a mudança do nome de Águas Virtuosas para Lambari. Montagem. Fonte: (bn.digital.gov.br)


SUMÁRIO


Introdução

Em 1930, por meio do Decreto nº 9.804, de 28 de dezembro, o sugestivo, majestoso e centenário nome de nossa cidade foi alterado de ÁGUAS VIRTUOSAS para LAMBARI.

Neste post, vamos conhecer as razões históricas, políticas e legais dessa mudança.

Vamos lá.

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As origens da Região do Lambari

No Século XVIII, uma expedição de baianos e paulistas penetrou rumo ao Oeste, cortando a Mantiqueira pela garganta do Embaú em direção ao Sertão do Rio Verde. Nessa caminhada, nomeiam Pouso Alto e chegam a um afluente do rio Verde, que denominam de Baependi. A notícia de ouro nas terras banhadas pelos rios Verde e Sapucaí chegou a São Paulo e rapidamente houve o deslocamento de homens para essa direção. [1] [19] [21] 

Foi a picada feita por essa expedição que deu origem à Estrada Geral, em torno da qual surgiram as cidades de Campanha, Pouso Alto, Aiuruoca, São Gonçalo do Sapucaí, Itamonte e outras.

A Estrada Geral ligava a Corte (Rio de Janeiro) à cidade de Campanha (MG), passando por:

  • São José do Picu (atual Itamonte, MG), no Alto da Mantiqueira; 
  • Pouso Alto, MG; 
  • proximidades do Rio Lambari (que nasce em Cristina, MG e passa por Jesuânia, MG); 
  • e as fontes das Águas Virtuosas de Campanha (atual Lambari, MG).

A partir de meados dos anos 1700, dois fatos contribuíram para colonização da região do Rio Lambari: em paralelo à Estrada Geral, e no trecho mais próximo ao Rio Lambari surgiram as primeiras casas e agrupamentos de moradores, que foram se estabelecendo com pequenas lavouras. Em 1749, aparece pela primeira vez o nome de um morador na região: Manuel Vieira. Em 1753 surge a distinção entre Lambari de Cima e Lambari de Baixo, prova de que iam aparecendo moradores em ambas as partes da estrada. E desde 1755 é conhecido o sítio do Lambari, de onde surgiu a povoação que deu origem ao atual município de Jesuânia.   [2]  [8] [19]

E nas fontes das águas minerais, surgiu a Paragem da Água Virtuosa. [2] [3] [19]

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O Rio Lambari

A região de Campanha do Rio Verde foi descoberta pelos paulistas por volta de 1720, tendo pouca divulgação até 1737, quando em 2 de outubro, uma expedição militar sob o comando do ouvidor da Vila de São João Del Rei, Cipriano José da Rocha, veio com a incumbência de reconhecer a região, desbravar os sítios desconhecidos ao longo da bacia dos Rios Verde, Sapucaí e Palmela e tomar posse do território em nome do Rei. [4] [19] [20]

Durante essa empreitada, Cipriano José da Rocha fundou um povoado, batizando-o com o nome de Arraial de São Cipriano. Esse povoado deu origem à cidade de Campanha.

E foi nessa oportunidade que Cipriano José da Rocha conheceu o Rio Lambari. De fato, diz ele no ofício então mandado a D. Martinho de Mendonça de Pina e Proença, governador da capitania mineira:

As terras destas Minas é (sic) uma dilatada Campanha do Rio Lambari para dentro. Exceto uma serra que tem seu princípio no mesmo rio e se dilata por espaço de uma légua, toda coberta de matos, por onde vem a estrada que mandei abrir e achei muito capaz. São os ares muito alegres, de maravilhosa vista e com melhor assento que as terras de São João d'El Rei. Tem o Lambari copiosa abundância de peixe grosso e miúdo, de admirável sabor e gosto, por ser todo de pedras o rio. E com redes que trouxe fiz uma grande pescaria, sem muito trabalho. (Grifei) [5]

Note-se que a força do nome LAMBARI para o rio da região vai se impor até mesmo no entorno das fontes de águas minerais, visto que o nome primitivo do nosso Rio Mumbuca era Lambari pequeno.

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Águas Virtuosas do Lambary

No início do século XIV, já acreditando nos valores medicinais das águas da antiga fazenda Trás da Serra, a Câmara de Campanha compra parte dessa terra que passou a ser conhecida como Ágoa Virtuosa.

Em decorrência dos valores medicinais dessas águas santas, criou-se o povoado que foi distrito de Campanha até 1901, quando é fundado o município, com o nome de Águas Virtuosas, mais tarde, Lambari.  [18]

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Mapas da região do Rio Lambari

Fonte: Atlas Chorograhico Municipal


Fonte: CARROZO, 1988, p. 34


Observações quanto ao mapas acima:

  • A atual cidade de Lambari (MG) surgiu de extensão de terras desmembrada do município de Campanha (MG) e Baependi (MG). Antes de tornar-se município, essa extensão chamou-se Águas Virtuosas de Campanha, e abrangia áreas correspondentes aos atuais municípios de Jesuânia (MG) e Conceição do Rio Verde (MG)
  • Assim, a “Lambari” indicada no mapa se refere à "antiga Lambari" (que atualmente é a cidade de Jesuânia, MG)
  • A “Águas Virtuosas” indicada no mapa se refere à atual Lambari (MG).
  • O Rio Lambari nasce em Cristina (MG), passa por Jesuânia (MG), e ao se encontrar com o Rio Mumbuca (antigo Lambarisinho ou Lambari Pequeno) forma o Rio Itaici, que desagua no Rio Verde, em Conceição do Rio Verde (MG).

Fonte: A circulação entre o Rio de Janeiro e o Sul de Minas Gerais, c. 1800-1830 -   
Cristiano Corte Restitutti


Estrada Real: mapas dos caminhos das Minas Gerais para o Atlântico (Fonte: Rede Graal)

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A expressão ÁGUAS VIRTUOSAS

Além da importância fundamental ao meio ambiente, as águas de fontes santas, milagrosas ou curativas possuem estreita correlação com a origem, história, tradição, saúde, religião, ciência e economia humana.

Fontes de águas “milagrosas” no Brasil - Fábio Tadeu Lazzerini e Daniel Marcos Bonotto


A expressão Águas Virtuosas designava as propriedades curativas e medicamentosas das águas minerais e sua ação terapêutica e preventiva em face de diversas doenças. Expressões como água santa, milagrosa ou curativa também foram usadas para nomear as águas minerais em diversas regiões do País.  [6] 

Em Minas Gerais, dois filões geológicos de águas virtuosas, constituindo cada um deles uma bacia subterrânea independente, brotam do Planalto da Mantiqueira: Lambari e Cambuquira — Caxambu e São Lourenço. [7] 

Note-se que expressão águas virtuosas foi associada também às águas de Caxambu e Cambuquira, descobertas posteriormente às de Lambari. As Águas Virtuosas de Baependy (depois Caxambu) foram descobertas em 1814, e as Águas Virtuosas de Cambuquira, nos anos 1860.

Por sua vez, a descoberta das Águas Virtuosas de Lambary ocorreu anos antes, em 1780/90, sendo elas designadas inicialmente por Águas Virtuosas de Campanha do Rio Verde, Águas Santas da Campanha e Águas Virtuosas da Campanha. Quando foram descobertas, eram conhecidas em todo território nacional apenas duas fontes hidrominerais: a fonte do Cipó, na Bahia, descoberta em 1730, e a fonte de Caldas Novas, em Goiás, descoberta em 1737.  [8] 

Em torno dessas fontes, surgiu a povoação de Águas Virtuosas, a qual, em 1850, foi elevada à condição de Paróquia (Lei Mineira n. 487, de 28 de junho de 1850). E foi a partir dessa data que a povoação recebeu o nome oficial de Águas Virtuosas e que se deu a divisão da "velha região do Lambari" (que abrangia a atual Jesuânia e a atual Lambari) em duas freguesias: a da Águas Virtuosas (recém criada), e a do Lambari (atual Jesuânia), pertencentes, ainda, à cidade de Campanha. [8] 

A Lei estadual n.° 319, de 16 de setembro de 1901, instituiu o município de Águas Virtuosas, com território desmembrado dos de Campanha e Baependi, ocorrendo a instalação a 2 de janeiro do ano seguinte.


Fonte: O Constitucional, Ouro Preto, MG, 3, out, 1868, anuncia a chegada da Princesa Isabel a Águas Virtuosas, então pertencente a Campanha.


Fonte: A Província de Minas, Ouro Preto, MG, de 3, out, 1885, faz referência às Águas Mineraes do Lambary


Fonte: O Baependyano, Baependy, MG, de 18, abr, 1885, faz propaganda de hotel em Águas Virtuosas do Lambary.


O topônimo LAMBARI

Fonte: Francisco de Assis Carvalho (Entre a palavra e chão: memória toponímica da Estrada Real)


Veja também:

  • Pequena pesquisa sobre o topônimo LAMBARI (aqui)

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As razões alegadas

A principal motivação para edição do decreto 9.804/1930, mencionada pelo então Presidente do Estado, Olegário Maciel, foi de que a mudança do nome da cidade era "desejo dos seus habitantes, manifestado em memorial que lhe dirigiram".

A elaboração desse memorial foi encabeçada pelo diretório político da cidade, do qual participavam, entre outros, o Coronel Serafim de Paiva, o Dr. Manoel Airosa, o Coronel Ovídio Albino e o Coronel Oliveira Lobo.

No documento,  alegava-se, entre outras coisas:

  • que as fontes hidro-minerais aqui existentes eram conhecidas como águas de Lambary, e que também a estância era conhecida como Lambary;
  • que a propaganda das águas da estância era feita sob a denominação de Lambary;
  • que era comum a confusão da estação férrea de Águas Virtuosas, com a estação  de mesmo nome existente no estado de São Paulo (veja aqui);

Fonte: Jornal do Comércio, de 16, abr, 1893


Eis um resumo do memorial supracitado:

 

Fonte: Jornal A Noite, de 8,dez,1930

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Repercussões


O Decreto nº 9.804, de 27 de dezembro de 1930

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Referências

  1. http://sergiopiquetopolis.blogspot.com.br/
  2. http://www.ograndematosinhos.com.br/isabel/outro_matosinhos_84.htm
  3. LEFORT, Mons. José do Patrocínio. A Diocese da Campanha, 1993, pág. 206
  4. FERREIRA DA SILVA, Edna Mara.  Fronteiras ao Sul do Sertão das Minas: Aspectos da formação da Vila da Campanha da Princesa (aqui)
  5. CARROZZO, João. História Cronológica de Lambari - Nascida Águas Virtuosas da Campanha. Piracicaba, SP, Ed. Shekinah, 1988, pág. 20
  6. LAZZERINI & BONOTTO. Fábio Tadeu; Daniel Marcos. Fontes de águas “milagrosas” no Brasil - [Artigo] Ciência e Natura, v. 36 Ed. Especial II, 2014, p.559-572 - Disponível  (aqui)
  7. MOURÃO, Mário. Tratamento hydro-mineral das molésticas do fígado. RJ, Jornal do Comércio, 1939, p. 37
  8. MILEO, José N. Subsídios para a história de Lambari. Guaratinguetá, SP : Graficávila, 1970, págs. 12 e 56.
  9. Atlas Chorograhico Municipal - http://www.albumchorographico1927.com.br/
  10. Rede Graal
  11. http://memoria.bn.br
  12. Jornal A Noite, edições de 8, 19 e 29 de dezembro de 1930; e 2 janeiro de 1931
  13. Jornal O Fluminense, edições de 14 e 29 de dezembro de 1930
  14. Jornal do Comércio, edição de 16 de abril de 1893
  15. O Baependyano, Baependy, MG, edição de 18 de abril de 1885
  16. A Província de Minas, Ouro Preto, MG, edição de 3 de outubro de1885
  17. O Constitucional, Ouro Preto, MG, edição de 3 de outubro de 1868
  18.  Atlas Chorograhico Municipal - http://www.albumchorographico1927.com.br/
  19. LEFORT, José do Patrocínio [Mons.] 8o. Anuário Eclesiástico da Diocese da Campanha. Sul de Minas. 1946. 
  20. ARAUJO, Patrícia Vargas Lopes de. Os Sertões do Rio Verde e a criação da Vila de Campanha da Princesa. Disponível em: https://ebooks.pucrs.br/edipucrs/anais/cieia/assets/edicoes/2017/arquivos/39.pdf
  21. ARAUJO, Patrícia Vargas Lopes de. O Brasil no Século XVIII/XIV e a formação territorial das Minas Gerais - A Vila de Campanha da Princesa. Disponível em: ISTO É CAMPANHA Aqui nasceu o Sul de Minas: Patrícia Vargas Lopes de Araújo e a Vila da Campanha da Princesa (istoecampanha.blogspot.com)

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Publicado por Guimaguinhas
em 24/06/2016 às 08h02

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