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11/12/2017 21h16
MEMÓRIAS DE AGUINHAS - Cassino de Lambari - A obra-prima de Américo Werneck

Ilustração: Cassino de Lambari, detalhes da fachada. Fonte: Site IEPHA/MG


SUMÁRIO


Apresentação

Sobre o nosso Cassino já publicamos diversos posts, como estes:

  • O centenário Cassino de Lambari - aqui
  • Obras de Werneck - O Cassino de Lambari -  aqui
  • O Cassino de Lambari e a homenagem ao sol - aqui
  • O fechamento dos cassinos -  aqui

Neste post vamos comentar a reforma por que vem passando o Cassino de Lambari e sua destinação para instalação do Museu das Águas.

Confira.

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Werneck, um visionário

As “águas virtuosas” desabrocharam a povoação que se fez sobre as propriedades terapêuticas de suas fontes. A partir de 1909, iniciou-se uma nova fase para a antiga Águas Virtuosas.

A Lambari atual tem sua origem em 1909, fruto do sonho visionário de um homem, e do apoio do Estado, que viu na pequena estância hidromineral o potencial para se tornar o maior complexo de lazer do país, uma “Vichy” brasileira em nada inferior aos balneários europeus. O símbolo máximo deste sonho, o Cassino, imponente edifício que impressiona ainda hoje pela grandiosidade e beleza de suas linhas, domina a paisagem da pequena cidade. Este grandioso edifício, destinado a se tornar o maior templo da indústria de entretenimento do pais, símbolo da ousadia empreendedora do Dr. Américo Werneck, infelizmente não conheceu as glórias  sonhadas. No entanto, resistindo ás intempéries políticas e contendas humanas, chegou até nossos dias ainda em sua arrogante magnitude merecendo do povo mineiro o seu reconhecimento como patrimônio cultural do Estado.

Carlos Henrique Rangel (Historiador)


Transformar a acanhada Vila de Águas Virtuosas numa estância hidromineral moderna, capaz de concorrer com as melhores da Europa — o sonho de Américo Werneck foi longamente visionado por mais de 20 anos.

De fato, desde que chegara a Águas Virtuosas de Lambary, em 1889, começou a devanear essa possibilidade. E nos anos seguintes, empregou todos os seus recursos — o gênio criador, a formação técnica, a atividade parlamentar, os contatos políticos, o trânsito no mundo das letras, o relacionamento com a imprensa — na realização da maior de suas fantasias.

O sonho começou a ser realizado quando, com o apoio político e financeiro do Governo de Minas, nas figuras de Wenceslau Braz e Bueno Brandão [presidentes do Estado em 1909/10 e em 1908/09 e /1910/14, respectivamente], contratou a empresa carioca Poley & Ferreira para projetar as edificações e melhorias, transformando a vila modesta, por cerca de 2 anos, num formidável canteiro de obras.

Parte desses projetos foram inaugurados em 24 de abril de 1911, e entre eles a joia do conjunto imaginado por Werneck - o Cassino.


O Cassino do Lago

Com linhas arquitetônicas de um gosto apurado, de estilo barroco e neoclássico, o prédio ocupa uma área de 2.800 m2 e situa-se defronte a um lago artificial, que era iluminado por um farol e oferecia aos turistas legítimas gôndolas de Veneza para passeios.

Cassino é palavra originária do italiano casinó, com o mesmo significado: Casa ou lugar de reunião para jogos de azar, geralmente com espetáculos de música e dança. 


Frontão da fachada principal do Cassino de Lambari (Reprodução: estilonacional.com.br)


Era isso que se esperava fosse o nosso Cassino do Lago, a mais bela obra de todo o conjunto arquitetônico e paisagístico pensado  e construído por Américo Werneck.

Mas assim não se deu. Na verdade, no cassino de Lambari, os caça-níqueis, as roletas e as mesas de apostas só funcionaram na noite da inauguração, e assim mesmo de forma parcial, visto que havia equipamentos de jogos e diversões ainda incompletos e/ou não instalados, e problemas na iluminação do imóvel. E foi nesse estado que a obra foi inaugurada em 24 abril de 1911.

Pouco mais de um ano depois, isto é, em 16 de maio de 1912, quando Werneck arrendou ao Governo de Minas a estância de Águas Virtuosas, as obras e instalações do cassino ainda não tinham sido concluídas. E, a partir de 27 de junho de 1913, data em que teve início a discussão judicial do contrato de arrendamento citado, nada mais se fez nas décadas seguintes para completar o projeto original.

  • Sobre essa demanda célebre, conhecida por Questão Minas x Werneck, veja aqui e aqui.

Retomado em 1922 pelo Governo do Estado, o prédio passou pelas mãos de órgãos estaduais e da municipalidade. Nesse tempo, sofreu diversas reformas, que descaracterizaram áreas internas, mas mantiveram a originalidade da fachada. 

Atualmente, o prédio passa pela quinta reforma de sua história, uma reforma predial e restauração de seus interiores, e nele se pretende instalar o Museu das Águas. Confira:

  • A reforma do Cassino de Lambariaqui 
  • De Cassino a Museu - aqui
  • O Museu das Águas - aqui.

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Descrições do Cassino de Lambari

Veja algumas descrições do Cassino de Lambari:

  • O Cassino de Lambari - Nélson de Senna e Armindo Martins - aqui
  • Jornal O PAIZ, de 25 de abril de 1911 - aqui
  • Os interiores do Cassino - Francislei Lima da Silva - aqui
  • Site www.circuitodasaguasdeminas.com.br - aqui

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Reformas ao longo das décadas

Segundo o historiador Carlos Henrique Rangel [4], ao longo das décadas, o Cassino de Lambari passou por algumas reformas, a saber:

  • 1923 - Governo Raul Soares - obras de conservação e restauração dos serviços de água e luz elétrica (a)
  • Anos 1950 - realizada sob direção de Mary Vieira, responsável por grandes mudanças no prédio. (b)
  • Década de 1960 -  O Cassino, o Lago e o Parque da Águas foram incorporados ao patrimônio da Hidrominas – Águas Minerais de Minas Gerais S/A. Ainda nos anos 60, o prédio sofreu nova intervenção descaracterizante, agora no ano de 1963. (c)
  • 1980 - Foi assinado um convênio entre a Codeurb - Companha de Desenvolvimento Urbano, as Secretarias Estaduais de Planejamento, da Indústria e Comércio, a Turminas - Empresa Mineira de Turismo - e a Prefeitura Municipal de Lambari, para uma grande reforma do imóvel. (d)
  • 1986 - Em 1o. de março de 1986, a Prefeitura Municipal de Lambari recebeu em comodato da Hidrominas o prédio do Cassino. Esse contrato, com duração de 5 anos, estabeleceu que a prefeitura deveria conservar, construir e executar às suas expensas, a restauração do prédio. (e)
  • 1998 - Nesse ano, sob o controle da Comig – Companhia Mineradora de Minas Gerais (criada em setembro de 1994), o imóvel sofreu nova reforma, visando sua transformação em um centro de convenções. O plano porém não foi completado, e houve diversas intervenções inadequadas, como retirada de calhas de colhe e madeiramento e do vitrô oval (que, se supõe, representava papel importante na observação do solstício de verão*)

  • (a) MENSAGEM dirigida pelo Presidente do Estado, Raul Soares de Moura, ao Congresso Mineiro; 1923. Bello Horizonte, Imprensa Official, 1923. p. 141. 
  • (b) FOLHA DAS ÁGUAS, mai/jun. 1998. p. 8
  • (c) ESTADO DE MINAS. 31 AGO. 1980. 1º CAD. p. 6.
  • (d) Estado de Minas, Belo Horizonte, 2 set. 1980. p. 8. 
  • (e) COMIG. CASSINO P. 131. Contrato de Comodato do Cassino 1 março 1986.
  • (f) FOLHA DAS ÁGUAS, maio/jun. 1998. p. 8.

 

(*) Veja:  O Cassino de Lambari e a homenagem ao sol - aqui

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Diversos usos do Cassino de Lambari

Na sua longa vida de mais de 100 anos, o Cassino foi objeto de diversas ocupações e funções, a maioria fora do plano original, intercaladas por períodos de abandono e subutilização. Entre os usos dados a ele, podemos citar:

  • Utilização em solenidades, bailes, formaturas e atividades culturais e serviços sociais.
  • Instalação da Prefeitura e da Câmara.
  • Instalação da Secretaria de Turismo e Cultura, da Biblioteca Pública Municipal e do Museu Américo Werneck.
  • Instalação de parte do Fórum da cidade.

A todo esse descaso, deve-se juntar também um incêndio ocorrido em 2000, num dos cômodos do andar térreo, que consumiu inúmeros livros  ali guardados. Felizmente, o incêndio foi contido e não houve maiores danos ao imóvel. (Veja aqui)


O conjunto arquitetônico e paisagístico do Cassino

O Conjunto Arquitetônico e Paisagístico do Cassino de Lambari compreende o Lago Guanabara, o Farol e o Parque Wenceslau Braz.

Atualmente o prédio do Cassino é tombado como Patrimônio Histórico e Cultural pelo município (Decreto 1.059/2000) e pelo IEPHA-MG (Conselho Curador do IEPHA/MG em 14 de agosto de 2002).



Confira: Site do IEPHA-MG - Tombamento do Cassino - aqui


O Cassino no Guia de Bens Tombados do IEPHA/MG

O volume 2 do Guia de Bens Tombados, do IEPHA/MG, traz um belo texto de Ailton Santana sobre o nosso Cassino.

Confira nas págs. 129-32, neste link aqui


Reprodução: texto sobre o Cassino de Lambari, no Guia de Bens Tombado, vol. 2, do IEPHA/MG


O Museu Folclórico

Gustavo Barroso, professor, ensaísta e romancista, membro da Academia Brasileira de Letras, autor de mais de 120 livros de história, folclore, ficção, biografias, memórias, política, arqueologia, museologia, economia, crítica e ensaios, além de dicionário e poesia, frequentou Lambari durante décadas e aqui possuía o Retiro do Lago — sua casa de veraneio, a qual visitava 8 temporadas por ano.

Pois bem, em 1952, Barroso dirigiu carta ao então Governador de Minas, Juscelino Kubitschek, propondo a transformação do Cassino de Lambari em um Museu Folclórico, e oferecendo ajuda para tal desiderato.

Recorde-se que o conhecido museólogo possuía capacidade técnica e gerencial para auxiliar na concepção e execução do projeto, visto tanto seus estudos, ensaios, assessoria e prática na área de história, museologia e folclore, como sua experiência como fundador e diretor do Museu Histórico Nacional. Veja aqui

Confira esta carta na íntegra:


Cópia datilografada - Reprodução. Fonte: Acervo Gustavo Barroso

Rascunho manuscrito - Reprodução. Fonte: Acervo Gustavo Barroso

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Outros textos e referências sobre o Cassino de Lambari

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Referências

  1. http://www.estilonacional.com.br/web/?portfolio=antigo-cassino-em-lambari-mg
  2. http://www.varginhaonline.com.br
  3. http://www.iepha.mg.gov.br
  4. Carlos Henrique Rangel (Historiador) - Lambari: o município ea estância hidromineral - Histórico elaborado para o Processo de Tombamento do Conjunto Arquitetônico do Cassino de Lambari – IEPHA/MG.
  5. SILVA, Francislei Lima da. Os monumentos da água no Brasil, 2011, p. 85 - Disponível aqui
  6. Guia de Bens Tombado, vol. 2, do IEPHA/MG - Disponível aqui
  7. Jornal O Paiz - Edições 24 e 25 de abril de 1911 (bn.digital)
  8. Acervo Gustavo Barroso - Disponível em: http://mhn.museus.gov.br/

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Publicado por Guimaguinhas
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