Guimagüinhas
Memórias familiares e de minha terra natal
Textos
Ilustração: Antônio Carlos Guimarães (Guima) e Tista (João Batista Guimarães), por volta dos 12 anos, na antiga Farmácia Santo Antônio, em Lambari, MG

SUMÁRIO

     - Apresentação
     - Uma vida na farmácia
          Notas
     - Referências
     - O livro Menino-Serelepe

 

Apresentação

No texto Aprendiz de farmaceiro (aqui), extraído do livro Menino-Serelepe, eu narro passagens dos tempos em que trabalhei com meu pai (O Dé da Farmácia), na Drogaria Santo Antônio, nos anos 1960.
 
?id=1016423&maxw=495&maxh=660  Inspirado nessa minha experiência de aprendiz de farmaceiro — junção de farmácia + caixeiro , foi que escrevi também o texto Uma vida na farmácia do livro Os Curadores do Senhor — uma novela ficcional sobre curas paranormais, cuja história se passa na fictícia Aguinhas — nome literário adotado para a cidade de Águas Virtuosas de Lambari
 

Guima, com 12 anos, na Farmacia Santo Antônio

 - Veja também:

          - Uma vida na Farmácia
(aqui)

Pois bem, abaixo vai um trecho dessa narrativa.

Confira:

Uma vida na farmácia

Aguinhas, numa tarde do começo de agosto de 1963 
 
ERAM DUAS HORAS DA TARDE quando o ônibus chegou ao centro de Aguinhas e parou na agência da Evanil. Dele apeou um homem alto, com mala e pasta de mão, que tratou de ajeitar bem o capote e o cachecol para enfrentar o vento gelado que subia pela rua assoviando e varrendo folhas e ciscos. Desse modo seguiu até chegar a uma farmácia bastante antiga e acreditada, bem posta na esquina da Rua Direita; quando chegou, a ventania já amainara. Ao entrar, deparou-se com um menino conduzindo um carrinho de madeira rústico, todo pintado de branco, a não ser na parte da frente, onde se podia ler na tábua de pinho o nome:                  
 
Dentro do carrinho, uma lata vazia de tinta Sherwin-Williams com lixo; um velho balde de aço estanhado com a marca ABI, com água pela metade; um recipiente de água sanitária; uma garrafa de cerveja, à qual fora colada uma etiqueta: Álcool; e uma pequena garrafa de guaraná em que se lia: Solução Ácido Fênico – Cuidado! Pendurados nos varais do veículo, de um lado, três panos, um para cada tipo de limpeza; de outro, vassouras e espanadores. 
 
– Bonito carro, garoto, disse o homem. – Eu é que fiz, respondeu orgulhoso o pequeno. E certamente isso era verdade, que o manufator aprendiz deixara sinais de martelo, serrote, grosa a revelar um menino esperto, mas ainda inexperiente nas artes da marcenaria. Claramente era melhor na arte da limpeza, dado que o chão de ladrilhos surrados estava brilhando, as prateleiras espanadas, os vidros dos balcões impecáveis. 
 
– Você fez bom uso da caixa de TONIFORTIN. Coisa rara! Difícil de se ver hoje em dia! – disse o homem. – Meu pai trabalhou com esse artigo, há muitos, muitos anos – falou.

– E a limpeza? – perguntou em seguida – Água sanitária no chão, álcool nas vitrines e ácido fênico na assepsia, não é?

– Isso mesmo! Como o senhor sabe?

– Eu também já fui menino-aprendiz de farmácia. Faz muito tempo. Depois virei farmacêutico. E você, vai ser farmacêutico também?

– Não, meu pai não pode pagar a escola. Eu vou ser “farmaceiro”, como ele.

– “Farmaceiro”?

– É... uma mistura de caixeiro com prático de farmácia. E emendou: – O senhor é farmacêutico ou viajante? 

– Os dois, quer dizer, um farmacêutico que viaja propagandeando e vendendo produtos farmacêuticos – respondeu.

– Ah, como o dr. Paulo, da Rhodia. Espere um minuto que vou chamar meu tio, que é quem faz as compras – disse sorrindo. – Por favor, faça isso. Diga que é Oliveros Lião, do LABORATÓRIO LIONÊS, do Rio de Janeiro.  
 
E o pirralho saiu zunindo farmácia adentro.

E enquanto esperava, o viajante viu algumas pessoas próximas ao balcão, também aguardando atendimento, e passou a examinar atentamente as instalações antigas, pintadas de branco: altas prateleiras com medicamentos, balcões envidraçados com perfumarias, armários chaveados com joias, relógios e bijuterias, cartazes de propaganda, o relógio cuco, a balança Filizola. E, então, sentiu-se novamente o jovenzinho que cresceu dentro do estabelecimento do pai, na cidadezinha do interior nos anos 1930/40, e num átimo viu passar diante dos olhos o filme de sua vida...

Notas:

 
- Fharmacia da Empreza - Uma das primeiras farmácias de Águas Virtuosas de Lambary, pertencente à família Lisboa, onde trabalharam meu pai (Dé da Farmácia) e meu tio João Guimarães (Joãozinho Bode). Veja estes posts aqui e aqui



Antigo ônibus da Evanil. Reprodução. Fonte: fichadeonibus.blogspot.com.br


Reprodução. Diário de Notícias, 11/jan/1958 (bn.digital.gov.br)

 
- A Evanil - Foto de um antigo ônibus da Evanil, que fazia a linha Lambari-Rio de Janeiro, nos anos 1960-70. As cores verde, amarelo e azul eram a marca da companhia.

- Balança Filizola - As tradicionais balanças Filizola geralmente eram encontradas nas antigas farmácias do nosso país. E como está no texto acima, havia uma também na Farmácia Santo Antônio, em Lambari, MG.



Dona Beni Bacha, sua filha Marialva e a balança da Farmácia Santo Antônio


 
Reprodução capas antigos almanaques. Fonte: Memória Rodrigo Lopes

 
- Tonifortin - Nome fictício de um fortificante, similar aos Biotônico Fontoura e Sadol, fortificantes em moda nos anos 1960.
- Paulo da Rhodia - Referência ao Dr. Paulo Furtado, que foi farmacêutico responsável pela Farmácia Santo Antônio, em substituição a Armindo Martins, que falecera. Paulo, casado com Helen, morava em Lambari e era também representante comercial da Rhodia.



Selma (no caixa),  tendo ao lado Marlene e Toninha. 
Fonte: Lambari em Textos e Fotos

- Antigas instalações pintadas de branco - Na foto acima, podem ser vistas a balança Filizola e as vitrines pintadas de branco da antiga Farmácia Santo Antônio, em Lambari, MG.
Referências
 
- http://wp.clicrbs.com.br (Memórias Rodrigo Lopes)
Diário de Notícias, 11/jan/1958 (bn.digital.gov.br)
fichadeonibus.blogspot.com.br
- bn.digital.gov.br
- Lambari em Textos e Fotos
- Nadeje Bacha (fotos da família)
- Arquivo pessoal do autor

O livro Menino-Serelepe
 
  (*) O livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a coletânea HISTÓRIAS DE ÁGUINHAS, traz narrativas da infância do autor. V. o tópico Livros à Venda.

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Enviado por Guimaguinhas em 25/05/2018
Alterado em 27/05/2021
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