Nas Minas Gerais, Lambari foi a primeira localidade onde se encontraram as águas minerais, ditas Águas Santas e depois Águas Virtuosas, como já vimos (aqui). Quando foram descobertas, eram conhecidas em todo território nacional apenas duas fontes hidrominerais: a fonte do Cipó, na Bahia, descoberta em 1730, e a fonte de Caldas Novas, em Goiás, descoberta em 1737. [3]
Encontradas as nascentes da ágoa virtuosa, em 1780, pouco depois, foi alterada a rota da estrada para o Rio de Janeiro, via Itamonte e Guaratinguetá (Caminho Velho), fazendo-a passar próxima ao manancial das águas, dando origem à Paragem da Ágoa Virtuosa. [1]
O surgimento das águas foi um “acontecimento de vulto”, “uma célebre descoberta”, que chamou a “atenção popular”, trazendo benefício para a região. [2] E deve ter “repercutido em toda a Comarca do Rio das Mortes [que tinha sede em São João Del Rey e jurisdicionava então o termo de Campanha] e em toda a Capitania de Minas Gerais, como um acontecimento de grande significação.” [3]
A partir daí, o pequeno grupamento de pessoas reunido em torno das fontes formou um povoado, depois uma vila, despertando, assim, o interesse dos poderes públicos de Vila da Campanha do Rio Verde (futura cidade de Campanha) que, em 1826, tomou as primeiras providências administrativas para proteção das fontes. A seguir, Águas Virtuosas passou, sucessivamente, à condição de freguesia, paróquia e distrito, até a criação do muncípio, em 1901.
Lambari foi conhecida por Águas Virtuosas de Campanha do Rio Verde, Águas Santas da Campanha e Águas Virtuosas da Campanha.
Em 1874, o Almanach Sul-Mineiro, editado por Bernardo Saturnino da Veiga [4], fez um breve relato sobre as condições do povoado, naqueles anos da década de 1870: situação geográfica, condições do lugar e das fontes, economia local, lista de autoridades, etc., quando então o lugar era conhecido por ÁGUAS VIRTUOSAS DA CAMPANHA.
É um documento importante, para conhecimento da história de nossa cidade. Veja a seguir.
Evolução administrativa de Águas Virtuosas do Lambary
Abaixo, vai um quadro-resumo da evolução administrativa de nossa cidade.
Confira:
Águas Virtuosas da Campanha, centro da vila - meados Século XIX
Águas Virtuosas da Campanha - Como era nos anos 1870
Ilustração: Propaganda de A Primavera, extraida do livro Águas Virtuosas de Lambari (Roberto Capri, 1918)
O ÁGUAS VIRTUOSAS, de propriedade de ARISTIDES MOREIRA DE SOUZA, antigo tabelião civil, tendo como redator-chefe o então prefeito JOÃO LISBOA JÚNIOR e como redator URAL PRAZERES, foi um semanário que circulou em Lambari, nos anos 1950.
Pois bem, nos 26 números editados de julho e dezembro de 1953, encontram-se diversas propagandas do comércio, serviços e indústrias locais, que nos ajudam a reviver aspectos, pessoas e empreendimentos da nossa cidade daqueles tempos.
Com isso — pensamos — pode-se contribuir para que as novas gerações conheçam um pouco da história de famílias pioneiras da nossa Águas Virtuosas do Lambari, visto que propagandas são memórias de épocas, culturas e populações.
Vamos lá.
Propagandas de Tecidos & Roupas
Neste ramo, tradicionalmente ligado a sírios e libaneses e descendentes, em Lambari vamos encontrar as famílias Bacha e Naback. E também as famílias Viola (A Violinha, de Rômulo e Rubens Viola) e a Lorenzo (Casa América, de José de Lorenzo).
Vejam as propagandas:
Miguel Bacha e família (entre outros: Bebeto, Vavá, Zeca, Nílson, Professor Bacha e Dal)
A Casa Syria ainda persiste, com outro nome, tocada por Marcos, um neto de seu Miguel Bacha
José de Lorenzo (2o. da esquerda para direita) - da Casa América, em foto antiga numa loja de tecidos em Lambari (1928)
À direita da foto, na esquina, local onde funcionou a Casa Dois Irmãos, de Nascime e Roberto Bacha
Aspecto recente da Casa Dois Irmãos, onde funciona atualmente a Mimo Boutique e a Farmácia Novaes
Propagandas de Louças & Ferragens
Aqui encontramos duas empresas: A Casa Ferreira, de Jairo Ferreira (da qual já falamos aqui) e a Casa São José, de José Vicente de Oliveira, cujo estabelecimento existe até os dias de hoje, com outro ramo de negócio, mas na mesma família.
A Casa Ferreira era distribuidora de duas antigas marcas de cachaça: Recordação e Meia Lua. Recorde-se que em Lambari, havia a famosa Floresta, produzida por Vito Tucci.
Eis os dois reclames:
Autoridades eclesiásticas em Lambari (1955), passam em frente da Casa São José
Aspecto recente da Casa São José (GoogleMaps, 2011)
Propaganda de Secos & Molhados
Nesse ramo, temos:
Eis as propagandas:
Os flhos do seu Egídio Mileo. Da esquerda para a direita: Rosarinho e Nequinho, continuadores de A Primavera
Casa São Pedro, de Pedro José de Souza, no prédio inaugurado em 1949
Aspecto recente da Casa São Pedro (GoogleMaps, 2011)
Empregados por seu Antônio Bacha, de quem foram amigos, meu pai — o Dé da Farmácia — e meu tio João Guimarães trabalharam muitos anos na Farmácia Santo Antônio, onde se aposentaram nos anos 1980. Já escrevi sobre esses dois e seu trabalho na Farmácia. Confira:
Tio João e Dé, meu pai.
A viúva e filhos do seu Antônio Bacha
Sobre D. Catarina Bacha, veja este post aqui
Sobre D. Beni Borges Bacha, veja este post aqui
A Farmacia São José pertenceu a Mário Santoro, casado com a prof. Maria Rita Pereira Santoro, sobre quem já publicamos uma crônica aqui
Sobre antigas farmácias de Lambari, veja também este post aqui
Seguem os respectivos anúncios:
À esquerda da foto, na esquina, local onde funcionou a antiga Farmácia Santo Antônio
Farmácia São José, de Mário Santoro. Depois, vendida a Aluísio Junho.
Na foto: Aluísio, Raul e Fabiano Krauss, ladeando Aluísio Junho (de terno). Abaixo, de chapéu, o fotógrafo Vicente Teixeira Dias (anos 1950)
Propaganda de Comércio & Serviços
Não há ninguém da minha geração, bem como da anterior e da seguinte, que não tenha comprado material escolar ou um postal no seu Juca Leite, a tradicional Foto Papelaria São Luiz, fundada pelo seu José de Oliveira Leite — o seu Juca. Que ainda hoje funciona, com Joana Rambaldi Leite, viúva de José Gama Leite.
O Bar do Juca é patrimônio histórico de nossa cidade, sobre o qual já fizemos um longo post, que pode ser visto aqui.
E o Palace Hotel, de d. Mariazinha e seu Benedito, resistiu até a pouco tempo, quando transformou-se em um Supermercado da Rede GF.
Parte do Palace Hotel foi demolida e outra reconstruída, para dar lugar ao Supermercado GF (GoogleMaps, 2011)
Propaganda de Médicos & Dentistas
O grande médico lambariense, Dr. Ismael Gesualdi, anuncia seu consultório, que então funcionava no prédio da Empresa de Águas. Note-se a especialização em dosagem de águas, atividade de antigos crenólogos, hoje pouco praticada (Crenologia = estudo das águas termais ou das águas minerais.). Sobre o Dr. Ismael, veja também esta crônica aqui
Ismael Gesualdi
A seguir, os irmãos Nélson e Sebastião Miranda, divulgam sua clínica dentária. Roach é uma prótese dentária removível.
Dr. Nelson Miranda, esposa e filhos
Vejam os anúncios:
Duas famílias — Castilho e Guimarães de Souza — pioneiras na atividade de serralheria e hidráulica, cujos descendentes — muitos deles — trabalharam e/ou trabalham ainda nessa atividade e moram em nossa cidade.
E assim faziam propaganda de seus negócios:
Esse jogo faz parte da final do Campeonato da Liga de São Lourenço de 1953, que foi disputada numa melhor de três partidas: a primeira em São Lourenço; a segunda, em Lambari; e a terceira em campo neutro, em Baependi.
Na primeira partida, disputada em São Lourenço, o Águas venceu por 2 x 1, conforme vimos aqui
Nessa segunda, em Lambari, deu-se uma virada espetacular do Águas Virtuosas, que, perdendo por 2 x 0, conseguiu empatar o jogo em 2 x 2.
Vamos lá recordar.
Um grande time do Águas dos anos 1950
Muitos dos jogadores abaixo, estiveram nessa partida contra o ESPORTE CLUBE SÃO LOURENÇO, em 1953.
Veja:
Águas Virtuosas dos anos 1950. Na foto, entre outros, em pé: Dr. Ferreira, Cunha, Rely, Crisóstomo, Gidão, João André, Lilico, Vaca e Manoel Correia . Agachados: Professor Raimundo, Quinzinho, Nenê Nascimento, Laerte, Hélio Fernandes, Pinellinho e Chico de Castro.
Uma formação do Esporte C. S. Lourenço dos anos 1940-50
Um instantâneo do time do Esporte Clube São Lourenço, dos anos 1940-50. Na foto, entre outros, Mauro, Ferrer, Jair, Rui, Casca, Elias, Pinellão e Marujo.
O número 18, de 4 de novembro de 1953, de O ÁGUAS VIRTUOSAS, traz o relato do jogo, assinado por Carlos Rodrigues Eufrásio, professor de história do Ginásio de Lambari:
Reprodução: N. 26, de 27, dez, 1953
Confira:
Veja também os jogos seguintes:
Nos anos 1950, circulou em Lambari o semanário O ÁGUAS VIRTUOSAS, de propriedade de ARISTIDES MOREIRA DE SOUZA, antigo tabelião civil, tendo como redator-chefe o então prefeito JOÃO LISBOA JÚNIOR e como redator URAL PRAZERES.
Pois bem, nos 26 números que circularam entre julho e dezembro de 1953, vamos encontrar inúmeros registros para compor a nossa série SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO ÁGUAS VIRTUOSAS F. C., que vimos divulgando no site GUIMAGUINHAS (Índice da Série - aqui).
É o que veremos a seguir.
Lançado como substituto do antigo semanário lambariense A PELEJA, O ÁGUAS VIRTUOSAS vai nos ajudar a recordar importantes episódios do futebol de Lambari.
Entre os fatos mais marcantes, podemos citar:
O Águas Virtuosas vence o returno do campeonato
No domingo, 11 de outubro de 1953, o Águas Virtuosas foi jogar em Itajubá, tendo de vencer, ou, se perdesse ou empatasse, torcer por um resultado negativo do União. Mas venceu o jogo por 2 x1, sagrando-se campeão do returno, postando-se para decidir o campeonato contra o Esporte de São Lourenço, numa melhor de três partidas.
Abaixo a notícia dada pelo prof. Carlos Rodrigues Eufrásio, no O ÁGUAS VIRTUOSAS, de 11,out, 1953, no qual ele faz também uma avaliação dos jogadores.
Destaque para QUINZINHO - "foi o maior homem do Águas, uma verdadeira máquina".
Confira:
Da esquerda para direita: entre outros: Quinzinho, Val, Alair, Hélio, Nenê, Gidão, João André, Crisóstomo (cabeça baixa) e Nicola.
O Esporte Clube São Lourenço, nosso tradicional adversário, é aquele do qual já falamos em posts anteriores, como estes:
Um instantâneo do time do Esporte Clube São Lourenço, dos anos 1940-50. Na foto, entre outros, Mauro, Ferrer, Jair, Rui, Casca, Elias, Pinellão e Marujo.
Esporte Clube São Lourenço de 1951. Na foto: Jahi, Velho, Lita, Rui, João, Paulino. Agachados: Afonso, Hélio, Henrique, Enéas e Araújo. Reprodução. Jornal O Crack. São Lourenço.1951
Esse jogo faz parte da final do Campeonato da Liga de São Lourenço de 1953, que foi disputada numa melhor de três partidas: a primeira em São Lourenço; a segunda, em Lambari; e a terceira em campo neutro, em Baependi.
Nessa primeira partida, disputada São Lourenço, no dia 25 de outubro de 1953, o Águas venceu por 2 x 1.
É o que vamos ver.
Havia grande expectativa para a primeira partida da decisão do campeonato- Fonte: O ÁGUAS VIRTUOSAS, de 18, out, 1953
O número 17, de 25 de outubro de 1953, de O ÁGUAS VIRTUOSAS, traz o relato do jogo, assinado pelo prof. Carlos Rodrigues Eufrásio.
Reprodução: N. 26, de 27, dez, 1953
Veja também os jogos seguintes:
Ilustração: Referência à Água virtuosa da Campanha (a nossa água mineral), no Formulário ou Guia Médico do Brasil, de Pedro Luiz Napoleão Chernoviz, 6a. edição, 1864
Num domingo a farmácia cumpria seu plantão, estava muito quente e, depois do movimento da missa das nove, já quase nenhum freguês havia na botica, e o tempo passava lentamente, numa molengação só, com a modorra domingueira acometendo a todos, e eu lá, sem pressa, cozinhando o galo, folheando desatento um chernoviz a ver se encontrava notícias dos remédios da roça que a Mãe Véia costumava receitar: um emplastro de mostarda ou um escalda-pé com ervas ou um cataplasma de farinha de mandioca...
Antônio Lobo Guimarães, Menino-Serelepe (1)
Neste post, recordo meus tempos de aprendiz de "farmaceiro", as leituras de um "chernoviz", nas horas vazias de um domingo indolente, na Farmácia Santo Antônio, na companhia de meu pai, O Dé da Farmácia, para falar um pouco das propriedades curativas das águas virtuosas de minha terra.
Vamos lá.
No Brasil do Século XIX, os conhecimentos da medicina ainda eram incipientes, os médicos escassos e o acesso à escola formal era restrito. Em razão disso, os manuais de medicina popular se tornaram instrumento essencial para disseminar práticas e saberes aprovados pelas instituições médicas oficiais no cotidiano daquela população. Entre esses manuais, destacam-se os elaborados por Chernoviz [5] e Langgaard [6], que reconheceram a estreita relação entre a medicina popular e a medicina científica. [1]
Os manuais desses dois médicos estrangeiros contribuíram para a instrução acadêmica de inúmeros praticantes leigos da medicina: senhores e senhoras de escravos, curandeiros, boticários... [2]
Elaborados de modo a facilitar a leitura, os manuais de medicina popular continham a descrição das moléstias, bem como os conselhos e medicamentos que deveriam ser empregados em cada uma delas, de fácil formulação e úteis na economia doméstica. [2]
Vejamos alguns deles.
Erário Mineral, de Luís Gomes Ferreira
Editado pela primeira vez em Lisboa, em 1735, constitui um dos primeiros tratados de medicina brasileira escrito em língua portuguesa.
O livro reúne as experiências de práticas médicas realizadas pelo cirurgião-barbeiro Luís Gomes Ferreira na capitania de Minas Gerais. Além de uma descrição pormenorizada dos principais males ali frequentes, o autor também descreve os meios mais eficazes de cura que experimentou e faz um importante inventário dos medicamentos utilizados na época com suas respectivas funções.
Nessa leitura, descobrimos que entre os remédios empregados encontravam-se vários utilizados pelos índios e incorporados pelos paulistas à medicina colonial. Parte preciosa do relato é constituída pelas minuciosas informações sobre as duras condições de vida e de trabalho a que os escravos estavam submetidos, o que facilitava a propagação das doenças. Dois glossários completam e enriquecem ainda mais esta edição, procedendo a um levantamento dos médicos e cirurgiões citados pelo autor. (Scielo) (Disponível aqui)
Formulário Médico e Pharmacêutico - Theodoro J. H. Langgaard
Theodoro Langgaard (1813-1883) nasceu na Dinamarca, estudou medicina em Kiel, na Alemanha, e em Copenhagen, e veio para o Brasil em 1842, quando foi morar, inicialmente, numa vila da Fábrica de Ferro de Ypanema, bem próxima à cidade de Sorocaba (SP), onde conheceu o dr. Cruz Jobim, então diretor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Daí se transferiu para Campinas, cidade em que morou até 1870, quando veio para o Rio de Janeiro.
Em 5 de agosto de 1846, já há quatro anos no Brasil, apresentou, à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, uma tese para revalidação de seu diploma, dedicada ao dr. Cruz Jobim, na qual defendia a geração espontânea (a). Foi autor do Dicionário de medicina doméstica e popular — que teve duas edições, nas cerca de 1.500 páginas divididas em três volumes — e do Formulário médico — que, tal como o de Chernoviz, era presença obrigatória nas farmácias antes da criação de uma farmacopéia brasileira, e que, mesmo sem ter experimentado a popularidade da obra de Chernoviz, teve três edições.
Eclético e erudito, Langgaard fez a tradução e o prefácio do Atlas de anatomia, de Bock (b), escreveu Sucintos conselhos a jovens mães para o tratamento racional de seus filhos, bem como um tratado intitulado Obstetrícia (c), e ainda uma biografia do naturalista dr. Lund (d). [2] [Disponível GoogleBooks aqui]
a) Langgaard, Theodoro 1846 Dissertação crítica sobre a geração equívoca. Rio de Janeiro: Faculdade de Medicina. 13 p.
b) Bock, C. E. 1853 Atlas completo de anatomia do corpo humano. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert.
c) Menezes, R. O. L. 1934 Minhas memórias dos outros. Rio de Janeiro: J. Olympio.
d) Langgaard, Theodoro 1883 O naturalista dr. Lund (Peter Wilhelm), sua vida e seus trabalhos. Rio de Janeiro: Laemmert.
Formulário ou Guia Médica - Pedro Luiz Napoleão Chernoviz
O doutor Pedro Luiz Napoleão Chernoviz (1812-1881), nome abrasileirado de Piotr Czerniewicz,5 nasceu na Polônia (Lukov) e foi obrigado a sair de seu país, ainda bem jovem, estudante de medicina na Universidade de Varsóvia, por ter participado, em 1831, de um levante contra o domínio russo. Em 1836, participou no combate a uma epidemia de cólera, pelo que foi condecorado pelo governo francês com a medalha de mérito. Em 1837, doutorou-se em medicina pela Faculdade de Montpellier.
No início de 1840, Chernoviz aportou no Rio de Janeiro. No mesmo ano, em dezembro, teve seu diploma reconhecido pela Faculdade de Medicina e foi aceito na Academia Imperial de Medicina, como membro titular. [2]
Aqui escreveu o Dicionário de Medicina Popular e o Formulário ou Guia Médico do Brasil. Este último, lançado em 1841, foi o primeiro manual de terapêutica médica editado no Brasil, e foi dedicado ao Imperador Pedro II. O Formulário ou Guia Médico do Brasil constava de descrição dos medicamentos, propriedades, doses, moléstias para os quais deveriam ser empregados; plantas medicinais indígenas; águas minerais do Brasil; a arte de formular; receitas úteis nas artes e economia doméstica; e apoio a boticários e farmacêuticos. [3] [Disponível GoogleBooks aqui]
Os Manuais de Medicina Popular e o uso terapêutico as águas minerais
No século XIX, dava-se o nome de águas minerais àquelas que vertiam da terra, contendo
...substâncias estranhas à sua natural composição, e em quantidade tal que possam exercer na economia uma ação especial, e dependente da natureza destas substâncias e de suas proporções. (Chernoviz)
No seu Guia Médico do Brasil, Chernoviz trata das seguintes espécies de água mineral: águas acídulo gazosas; águas alcalinas; águas férreas; águas salinas; e águas sulforosas.
Langgaard, por sua vez, no Diccionário de Medicina Doméstica e Popular, definiu as águas minerais como aquelas
carregadas mais ou menos de substancias minerais, e que por causa da sua composição química e temperatura mais ou menos elevada, são empregadas como um importante meio terapêutico. [1]
Esse autor dá uma descrição geral sobre as águas, explicando o seu ciclo hidrológico e os seus diferentes estados físicos, fazendo a diferenciação entre a “água do mar”, “água doce”, “água parada”, “água branca”, “água de cal”, “água clorada” e “água destilada”. Essa foi uma das primeiras obras a fazer uma análise mais científica sobre as águas minerais. [1]
A Água Virtuosa da Campanha nos Manuais de Medicina Popular
Guia Médico do Brasil - Chernoviz (6a. edição, 1864)
Na 6a. edição, de 1864, do Formulário ou Guia Médico do Brasil, páginas 399-401, o autor Pedro Luiz Napoleão Chernoviz explana sobre os efeitos medicinais das águas minerais e faz referência à Água virtuosa da Campanha, já considerada, então, a principal água gazosa do Brasil. Como se sabe, esse era o nome por que se conhecia à época a água mineral de Lambari.
Dicionário de Langgaaard (2a. edição, 1872)
Na edição de 1872 do seu Diccionário de Medicina Doméstica e Popular, páginas 888-89, Langgaard faz também referência à Água virtuosa da Campanha, ou água santa.
Confira:
Propaganda da Água Virtuosa da Campanha (1883)
Em 1883, no Jornal Correio Paulistano, há duas propagandas da Água Virtuosa de Lambary, — que "adquiriu o nome de virtuosa por suas virtudes", diz o texto. A segunda propaganda faz referência ao Dicionário de Langgaard.
Como se recorda, as Águas Virtuosas de Lambary foram as primeiras a ser descobertas no Sul de Minas, em 1780. (Veja aqui).
Confira:
Reprodução: Correio Paulistano, fev, 1883
Reprodução: Correio Paulistano, set, 1883
Literatura sobre as propriedades curativas das águas virtuosas de Lambari
Em outro post, já falamos sobre as principais obras que tratam de aspectos médicos das águas de Lambari. (aqui)
[1] SCHRECK & MARQUES. SCHRECK , Rafaela Siqueira Costa ; MARQUES, Rita de Cássia. Águas Minerais: De Medicina Popular às Práticas Integrativas de Saúde do SUS [Artigo] - Disponível aqui
[2] GUIMARÃES, Maria Regina Cotrim. Chernoviz e os manuais de medicina popular no Império. [Artigo técnico] - Disponível aqui
[3] PORDEUS & PAIVA. PORDEUS, Isaela Almeida & PAIVA, Saul Martins. Odontopediatria. São Paulo, Asrtes Médicas, 2014 - Disponível aqui
[4] FERREYRA, Luis Gomes. Erário Mineral. Org. Júnia Ferreira Furtado. Belo Horizonte, Fundação João Pinheiro, Centro de Estudos Históricos e Culturais; Rio de Janeiro, Fundação Oswaldo Cruz, 2002 - Disponível aqui
[5] CHERNOVIZ, Pedro Luiz Napoleão. Formulário ou Guia Médica. Paris, Casa do Autor, 1864 - Disponível aqui
[6] LANGGAARD, Theodoro J. H. - Novo Formulário Médico e Farmacêutico. Rio de Janeiro, Eduardo & Henrique Laemmert, 1872 - Disponível aqui
(*) Esta trecho faz parte do livro Menino-Serelepe - Um antigo menino levado contando vantagem, uma ficção baseada em fatos reais da vida do autor, numa cidadezinha do interior de Minas Gerais, nos anos 1960.
O livro é de autoria de Antônio Lobo Guimarães, pseudônimo com que Antônio Carlos Guimarães (Guima, de Aguinhas) assina a série MEMÓRIAS DE ÁGUINHAS. Veja acima o tópico Livros à Venda.
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